Fremont Street

>>Still In Vegas <<

Por mais que você tente fugir, uma hora o seu organismo te pregará peças e você não irá mais querer apenas beber, porém estará afim de uma boa refeição. Percebi que estava faminto antes de chegar em Freemont Street, após um passeio no Art Museum, então quando eu pedi para o motorista do taxi me deixar em um restaurante próximo ele me trouxe para esta rua, o que é muito grosseiro da parte dele, já que existem vários restaurantes aqui e eu havia pedido claramente para que me levasse a um só. Caminhei pela rua praticamente lotada, mas ainda sim não dava para esbarrar em ninguém o que era um alívio, entre no primeiro bar que vi para comprar cigarros. O bar era quieto e com poucas pessoas, algumas suspeitas, mas eu estava acostumado com ambientes assim no mundo bruxo, e o mundo trouxa era o que menos me preocuparia e eu tinha ciência disso. "Trouxas...A quem acham que assustam com suas armas?" Pego o meu cigarro e saio dali, com passos largos mas lentos vou até o meu restaurante favorito de Las Vegas, o Luna Rossa. Um lugar aconchegante que apesar de bem movimentado era também discreto e elegante. Fui recebido por uma garçonete que me levou à uma de suas mesas na área para fumantes e me forneceu o cardápio do local. Finalmente tiro os óculos escuros do rosto, passando os dedos em meus olhos para que se acostumem com a luz dali. Dou um jeito em meus cabelos, colocando-os pra trás e puxo a cadeira um pouco mais para frente logo após abrindo o cardápio à minha frente. Passo os olhos rapidamente pelas letras e olho por cima do cardápio ao perceber uma moça loira na mesa da frente sozinha, fumando seu cigarro e bebendo martini. Concentrei-me em escolher a minha comida e fiz meu pedido para a garçonete, adicionando um suco de laranja natural e sem açúcar.
Peguei o isqueiro de meu bolso confirmando a presença de minha varinha no mesmo, só por precaução, e acendi mais um cigarro. Nem acreditava que iria embora de Las Vegas hoje, ou mesmo que iria ter que, fatidicamente, visitar a casa do meu infelizmente pai na Irlanda. Talvez eu passasse em mais algum lugar antes de ir para lá, eu realmente preciso estar bem relaxado ou bem bêbado para conseguir aguentar aquele velho. Soltei a fumaça do meu último trago bem lentamente e apaguei o cigarro no cinzeiro cobreado à minha frente, fingindo que não estava vendo que a mulher me olhava de tanto em tanto tempo. Tinha jeito de bruxa, o que de certa forma me preocupou um pouco, já que bruxas são particularmente excêntricas.
A garçonete traz a minha refeição e coloca à minha frente, dizendo que está à minha disposição para quaisquer situações. Meu pedido era composto de uma simples Salada Mediterrânea como entrada e de um Risotto Agli Scampi como prato principal. Pego o garfo destinado à salada e começo a comer, saboreando e mastigando com cuidado para que a fome não me fizesse engolir tudo de uma só vez. De tanto em tanto tempo eu bebia a água de uma taça que estava à minha frente. Olhei para a dama que estava me fitando todo o tempo e desta vez sorri amigavelmente. Quando fui começar a comer o prato principal, peguei um guardanapo, escrevi e pedi para que a garçonete levasse para a senhorita. O bilhete dizia: "Ainda estou no prato principal, há tempo para que se sente comigo. Sinta-se convidada e fique à vontade tanto para aceitar o convite quanto para rejeitá-lo."
Esperei que a senhorita lêsse o bilhete e bebi um pouco do meu suco, olhando para ela fixamente. Observei-a levantar de sua mesa, como eu previ que fosse acontecer, e chegou mais perto de minha mesa. Não me levantei para fazer gentilezas como cumprimentá-la ou tirar a cadeira para que sentasse, afinal eu já estava comendo. Limpei minha boca com o guardanapo quando ela sentou. - Desculpe senhor, mas eu não te conheço? Mastiguei minha garfada rindo, engoli e olhei para ela. Era óbvio que estava inventando uma desculpa para que estivesse olhando para mim sem parar. Seus olhos me olhavam fixamente, como se estivesse tentando ler a minha mente e meus sentidos apontavam cada vez mais a suspeita de que ela era bruxa como eu. Apesar de tudo ela não disse mais nada além disso e foi de certa forma engraçado ela falar esse tipo de coisa nesse tipo de ambiente, afinal não é possível se esbarrar em um conhecido em Las Vegas se você não for de Las Vegas. Ainda sim achei quase convincente e a respondi cordialmente. - Se já me conhecesse não iria ter esquecido. Me chamo Viktor, sinta-se à vontade para pedir algo para me acompanhar, uma bebida pelo menos? E se depois de alguns drinks me achar digno, diga-me seu nome. Pedi para que a garçonete colocasse qualquer coisa que ela tivesse consumido antes de eu chegar e até a hora que eu fosse embora em minha conta, para que pagasse ao sair. A moça se apresentou como Amanda e pediu bebidas, me acompanhando apenas na sobremesa, um Cinnaholic particularmente delicioso que eles serviam nesse restaurante. Umas horas mais tarde ela me acompanha em um blend e eu a digo que não poderei tardar mais, visto que meu vôo sairia dali uma hora e meia e eu poderia perdê-lo se ficasse com ela. O que era mentira, eu iria aparatar mesmo. Ela escreveu o número de celular trouxa dela em um guardanapo e o beijou deixando a marca de seu batom e colocando o pedaço de papel em meu bolso de trás. Não importava o que ela estava dizendo ou fazendo, eu não estava convencido de que ela era trouxa, mas não entramos em qualquer assunto do tipo ou que deixasse a gente embaraçado no meio do dia. Nos despedimos e vamos ambos embora, depois de eu ter pago toda a conta e fumado mais um cigarro. Não sou de reparar no conteúdo da conta, mas percebi como um relance que o que ela tinha bebido antes de me encontrar não era um martini, era pinga brasileira que ela havia disfarçado colocando-a em um copo raso de martini com uma cereja dentro. "Ela devia estar com alguns problemas para perder a classe e beber esse tipo de bebida." Depois de sair do restaurante dou uma olhada na Freemond Street e entro em um banheiro público aparentemente conservado, que ótimo que não havia ninguém no local e não me senti desconfortável, escovei os dentes em frente ao espelho e borrifei duas vezes meu refrescante bucal. Arrumei meu cabelo, lavei o rosto e sequei me com o auxílio de minha varinha logo depois colocando os meus óculos de sol novamente.Por último, me tranco em um box para aparatar.
Saio dali.

When my time comes forget the wrongs that I've done.

Do you need something?